segunda-feira, 2 de maio de 2011

Entrevista dada por Cleyton Lobato, por ocasião do dia 18 de maio - a partir do levantamento de dados

ENTREVISTA DADA A UM JORNAL DA CIDADE
POR OCASIÃO DO DIA 18 DE MAIO
Trechos da reportagem cedida a um jornal de Belém sobre o Enfrentamento da Exploração Sexual Comercial contra Criança e Adolescente. Com o título “Grupos e projetos ajudam crianças no Pará”, segue logo abaixo a entrevista.
Mesmo em um cenário de violações, surgem no Pará grupos e projetos que têm por objetivo enfrentar a violência contra crianças e adolescentes, a maioria deles liderados pela sociedade civil organizada. Um dos movimentos mais fortes é liderado por jovens que têm reunido esforços para avaliar as políticas públicas voltadas para a infância e juventude e discutir formas de levá-las, de fato, para a rotina dos envolvidos. Abaixo, o educador social e popular Cleiton Lobato, da Pastoral da Juventude, fala sobre políticas públicas, violência sexual e os direitos de crianças e adolescentes e da experiência de entrevistar adolescentes vítimas de violência sexual em rodovias federais e áreas de influência de barragens.
O senhor tem feito um trabalho de reconhecimento de espaços de exploração e investigação sobre jovens vítimas de graves violações. Como é esse trabalho?
O interesse em realizar um levantamento sobre o cenário da exploração sexual comercial das adolescentes aconteceu neste primeiro semestre, dentro de áreas de rodovias federais e de áreas de influência de barragens de hidrelétricas, como em Tucuruí, por exemplo. O trabalho é resultado de cooperação técnicas entre a Pastoral da Mulher Marginalizada do Regional Norte, que engloba o Tocantins, Pará e Amapá. A realidade de jovens dos sexos feminino e masculino em situação de prostituição e também de exploração sexual é quase sempre marcada por forte violência, e é muito importante conhecer isso de perto, pois a experiência revela algo até então estudado apenas em livros ou outras fontes, mas agora vivenciada de perto com os depoimentos colhidos. Este é um primeiro projeto que compartilho com a rede Txai, que provavelmente deve ter uma continuidade. Acompanho um relatório de pesquisa que contém dados coletados e informações pertinentes à vida noturna das jovens em condição de prostituição e de exploração sexual em alguns municípios do Pará. As dificuldades do trabalho são inúmeras e vão desde a negação por parte das meninas em declarar ter menos de 18 anos até o medo de se expor e falar sobre sua vida a um pesquisador.



Vários relatórios e documentos apontam que a situação de violação é mais grave no interior do Estado. O senhor concorda?
Acompanhei as discussões em preparação do dia 18 de maio (Dia Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes) em Bragança, e são crescentes os relatos de abusos e de exploração sexual que afetam as crianças e adolescentes nos demais municípios daquela região. Acredito que a violência dentro dos municípios do Estado tem um outro agravante porque ela (violência) ainda é velada e pouco discutida e tratada de forma pedagógica pela sociedade local, o que gera uma atitude permissiva e de pouca mobilização local para o enfrentamento. Com isso, são comuns situações em que a vítima acaba sendo, de tal modo, depreciada, se negando a denunciar e sofrer revitimização. Como não há uma rede de enfrentamento consolidada nos municípios de modo a permitir a proteção de vítimas e o acompanhamento inicial para a apuração dos casos, muitas vezes a vítima e sua família deixam a cidade por causa da ignorância e do descaso das autoridades e de tantos outros.
Como o senhor avalia as políticas públicas apresentadas atualmente no Brasil para enfrentar a violência Sexual contra crianças e adolescentes?
Todas as formas de ações que se voltam para a erradicação da violência sexual são necessárias, para que a justiça e os direitos fundamentados na absoluta prioridade sejam consolidados no Estado Brasileiro. Ao passo que temos avançado na discussão, a partir da construção do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Criança e Adolescente, trazendo o envolvimento de novos membros na rede de enfrentamento contra a violência sexual. Nossa reflexão deve ser aquela onde os resultados levem para uma diminuição da própria violência, uma vez que essa prática tem que ser combatida e responsabilizada, para que as medidas adotadas e propostas sejam de fato garantidas e os serviços possam superar as dificuldades estruturais, financeiras e humanas com os trabalhos de atendimento.
O senhor acha que essas políticas interferem de fato na vida dos adolescentes vitimados?
É preciso insistir na melhoria do atendimento à criança e ao adolescente, assumido de forma integral a condição de quem sofre esse tipo de violência. Não se pode cair no erro do descaso e da omissão, que leva à sensação de injustiça e de que nada mais pode ser feito após o ato de violência. Queremos que crianças e adolescentes possam ter a oportunidade de uma vida digna e de liberdade para decidir qual a melhor maneira para romper com o medo da violência.


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