segunda-feira, 16 de maio de 2011

PROSTITUIÇÃO EM MANAUS - Primeiro levantamento

Na segunda reportagem da série, A CRÍTICA mostra que a atividade feita nas ruas, em plena luz do dia, é um dos traços que caracterizam as zonas portuárias das capitais. A região central da cidade de Manaus não é diferente das demais

manaus, 15 de Maio de 2011

Júlio Pedrosa

A prostituição está presente no Centro da cidade
A prostituição está presente no Centro da cidade (EVANDRO SEIXAS/ACRÍTICA)

Presente na maioria das cidades, a prostituição feita nas ruas é um dos traços que caracterizam as zonas portuárias e centrais principalmente nas capitais. No Centro de Manaus, não é diferente. A atividade é desenvolvida à luz do dia e nos locais mais inusitados. Mas um em especial chama a atenção: a praça da Matriz. Bem no entorno da imponente Catedral de Nossa Senhora da Conceição, a primeira igreja católica construída na cidade, centenas de profissionais do sexo dividem espaço e a clientela formada, na sua maioria, por homens mais velhos, que circulam de forma aleatória pelo lugar em busca de programas sexuais.

A situação choca quem passa pela primeira vez na área. Mas basta observar a calma com que os transeuntes passam para concluir que a convivência com a prostituição naquela local é pacífica.

A reportagem de A CRÍTICA passou uma tarde no local para conhecer de perto essa realidade. Arredias, as prostitutas não aceitam falar muito sobre a rotina no local. Espalhadas por toda a parte, elas também não se intimidam por usar roupas insinuantes, estejam solitárias ou em grupo. O medo de serem identificadas faz com que fujam das lentes das câmeras, porque em muitos casos escondem da família a verdadeira profissão. Mas aos poucos, conseguimos convecê-las. M., 36, é uma das poucas que aceitaram falar. Ela conta que trabalhava como doméstica e ficou desempregada há pelo menos um ano. Apesar da aparência cansada, ela diz trabalhar na praça da Matriz de vez em quando desde que perdeu o emprego. Foi levada para a praça por uma amiga, que já trabalhava na área. Nas suas contas, aproximadamente 100 mulheres frequentam aquele local todos os dias. “Minha amiga já fazia programa e me convidou. Vim e gostei porque era uma forma mais fácil de ganhar dinheiro, porque aqui é mais tranquilo”, diz, referindo-se à praça, que além de gradeada conta com a presença constante da Guarda Civil Metropolitana. “Aqui é mais seguro, a gente se sente mais tranquila e dá até pra rezar e pedir proteção”, diz ela, admitindo que vez por outra entra na igreja.

M. conta que começa a trabalhar às 8h, faz um intervalo para almoço em um restaurante da área, e só saí de lá às 19h para retornar à sua casa no bairro do Mauazinho, na Zona Leste. Na rotina de trabalho, ela conta que os programas sempre são feitos nos moteis da vizinhança. Nunca no pátio da igreja, por uma questão de respeito. É como um código de ética seguido por todas. “A gente conversa e acerta o programa, mas muitos quando chegam no quarto não querem cumprir o combinado e ficam marcados, não convido mais”, relata M. Segundo ela, a praça funciona como uma vitrine. Os clientes passam, olham, sentam e escolhem. “Aqui é tranquilo, não há brigas nem cafetinagem”, garante.

Do lado de dentro da igreja, a missa transcorre de maneira tranquila e de portas abertas. “A Casa de Deus é para todo mundo, homens, mulheres, alcoólatras, prostitutas, viciados. Ela tem que acolher a todos que aqui vem em busca de uma luz para suas vidas”, afirma o vigilante Pedro V., 53. Ex-alcoólatra, ele é membro há 17 anos do grupo Alcoólicos Anônimos (AA), que se reúne numa das salas do complexo denominado Aviaquário, que funciona ao lado da igreja. “Não temos problemas com as pessoas que frequentam a Matriz. Pra gente, qualquer um tem o direito de rezar e pedir proteção”, afirmou.
 
Desorganização é notória
A ex-prostituta Sebastiana dos Santos Barata, 55, atualmente presidente da Associação As Amazonas, entidade de defesa das prostitutas e ex-prostitutas do Amazonas, admite que hoje a atividade da prostituição está disseminada de forma desorganizada e perigosa no Centro. “Na verdade, hoje, em todos os lugares do Centro, tem mulheres de programa, nas paradas de ônibus, nas esquinas, portas de lojas, de forma concentrada ou não, elas estão em todos os locais, e isso não é bom”, explica a ex-profissional do sexo, que fala com a experiência de quem já trabalhou naquela área da cidade.

Dona Ana, como ela é conhecida, defende que Manaus adote o modelo de várias cidades do Brasil e de outros países, onde a prostituição tem endereço certo. “Acho que as prostitutas devem ter um local definido onde possam ficar concentradas de maneira segura e o mais natural possível, como era, por exemplo, na época da rua Itamaracá”, assegura. O processo de crescimento urbano vai, segundo Sebastiana, levando a uma dispersão das profissionais do sexo no Centro e faz com que passem a ocupar locais que não são adequados. Para dona Ana, a praça da Matriz é um desses locais. “Se sou católica, acho que aquele é lugar sagrado, e nem trabalhando de forma discreta aceitaria estar estar lá. Por isso, acho que deve haver um lugar específico que a população em geral identifique como sendo uma área de prostituição”, afirmou.

A Associação As Amazonas realiza um trabalho de prevenção no combate às DST/Aids junto às profissionais que fazem programa no Centro. “Lá, temos mulheres de todos os tipos e idades, acima dos 18 até os 60. Só não admitimos a presença de menores. Aliás, fazemos nossas blitze com o objetivo de combater que adolescentes se prostituam”, afirmou.
 
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Denise Mara
Presidente do Núcleo de Prostitutas Rosa Vermelha
Fone: 9226-1487

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